Odù de Nascimento
Como se determina o Odù de Nascimento
O candomblé desenvolveu um hábito sem sentido de determinar Odù através de número. É uma prática sem nenhuma razão e que virou verdade apenas porque uma legião de pessoas, Babalorixás e Iyalorixás, que não entendo Ifá e não sabendo o que é um Odù, encontraram, ingenuamente, nessa numerologia uma forma de expressar o que não sabiam.
Sim, na ausência de conhecimento e na falta de condições de buscar conhecimento se agarraram a uma coisa sem propósito (mais bem simples), que é traduzir um Odù através de uma operação aritmética. Isso é muito conveniente, porque substitui conhecimento e aprendizado por algo que qualquer criança pode fazer. As pessoas em vez de aprenderem de fato, substituíram conhecimento por invenção.
Claro que havia dificuldade para aprender, o conhecimento não era facilmente disponível e essa aritmética assim como outras explicações bobas sobre Odù acabaram surgindo e foi dado crédito a elas. Crédito demais.
Como todos passaram a adotar isso, essa aritmética idiota virou uma verdade. Sim, se todos repetem a mesma mentira, aquela mentira vira verdade no contexto daquelas pessoas. Foi isso o que ocorreu no Candomblé com essa questão de Odù.
Eu sempre comento esse assunto e vou continuar comentando porque isso tem que acabar.
Com a vinda de Ifá para o Brasil através de Cubanos e Nigerianos os brasileiros tiveram mais facilidade para aprender e entender o que é de fato Ifá e Odù. Viram a prática, viram como é o oráculo de fato e como são os processos de trabalhar com Odù.
A primeira coisa que a gente entende é o quanto é boba a conta de determinar Odù através de números e principalmente da data de nascimento das pessoas. Gente, eu aprendi no Candomblé assim e já fiz centenas de cruzinhas com os tais 4 Odù. Mas, quando aprendi primeiro Yorùbá e depois Ifá, entendi que aquela aritmética não tem o menor sentido.
Então, a primeira informação para quem quer aprender: NÃO se determina Odù através de números. A segunda informação: não existe relação entre Odù e números.
Em Ifá, que é o oráculo original, não se usam números, apenas símbolos gráficos. Sem dúvida Odù envolve alguma complexidade. Não é um significado simples, é um contexto, com um significado complexo, mas, não é complicado, entretanto não vamos tratar desse significado aqui, apenas da forma como se apresenta.
Em Ifá, um Odù se traduz por uma marca gráfica, composta por 2 colunas. Cada coluna tem 4 elementos e esses elementos podem ser 1 traço vertical sozinho ( I ) ou 2 traços juntos ( II ). No total, 8 elementos gráficos em 2 colunas lado a lado formam um Odù.
Essa é a representação de um Odù.
Não existe dentro de Ifá, seja com o ikin ou com o Opele nenhuma correspondência de número com Odù. Não existe nenhuma forma de se determinar um Odù através de um número. O Odù nasce, sempre, como uma marca gráfica composta. Se existe um número associado a Odù, estes seriam 1 e 2, usados para contar os ikins... e estariam associados a todos os Odù, mas isso apenas para criar as marcas gráficas.
Sob o ponto de vista da sociedade Yorùbá, não existe aritmética decimal. Números são substantivos, palavras.
Em nenhum momento, qualquer Odù, é associado e um número.
Essa relação foi inventada fora de Ifá, fora da religião Yorùbá, provavelmente no novo mundo (ilação minha). Isso é apenas uma prática de numerologia. Eu não tenho como entrar no mérito ou não dos que acreditam ou praticam numerologia, pelo contrário, existe uma mística sobre números enquanto símbolos. Mas no que diz respeito à religião Yorùbá isso não ocorre.
Os números são palavras, substantivos e a aritmética é coisa de árabes.
Em algum momento da história alguém associou uma coisa a outra, tenho quase certeza que isso é bem recente e está ligado ao uso dos búzios uma vez que em Ifá não existe como se associar número a Odù. Por isso que eu digo que deve ter surgido no novo mundo. Aqui nas tradições da diáspora, os jogos de búzios são muito populares.
No jogo de búzios sim, por acaso, os números são associados aos Odù devido a quantidade de búzios aberto definir o Odù. Contudo, isso é assim por acaso. Qualquer ligação entre búzios abertos e Odùs poderia ser feita. Não existe nenhuma obrigatoriedade de associar determinada quantidade de búzios abertos com um Odù. Isto é uma convenção arbitrada.
Lamento dar essa má notícia. Mas não seja mais idiota em acreditar nisso. Porque ai não é mais falta de informação e sim burrice mesmo.
Não existe na religião Yoruba ou mesmo na cultura Yoruba qualquer operação que se faça com data de nascimento.
A evolução desta bobagem, associar Odù a um número, culminou com a elaboração de uma cruz onde são feitos Odùs para a pessoa. Isso virou regra junto aos Babalorixás e Iyalorixás, infelizmente e depois de forma geral dentro do Candomblé.
Mas esses Odùs fajutos não determinam o Odù de nascimento da pessoa.
Este processo é fajuto. Não de nenhuma atenção a isso e não dê atenção em quem diz para você Odù baseado em data de nascimento. Canso de ver isso em programas de rádios, pessoas nitidamente desinformadas.
Mas, para continuar, ou piorar, a marmotagem, aparecem uns Babalawo dizendo que determinam o Odù de nascimento das pessoas. Isso também é bobagem. Não acredite em idiotice só porque muda quem fala, porque no caso destes é muito grave porque ele tem obrigação de saber.
Não caia também nessa conversa só porque o cara diz que é Babalawo. Não acredite que ele vai dizer o seu Odù de nascimento e muito menos dizer qual o seu Orixá. São outros enganadores, do mesmo tipo que fazem isso com Búzios e dizem que são Babalorixás.
A determinação do Odù de nascimento de uma pessoa SOMENTE pode ser feita entre o terceiro e o oitavo dia de nascimento. Ela é realizada por um Bàbáláwo. Não pode ser realizada depois disso.
Assim, somente neste período pode ser saber o Odù de nascimento. Quem não fez isso neste período nunca mais saberá o Odù de nascimento. Quem quiser saber o Odù de nascimento do seu filho que procure um Bàbáláwo neste período. Depois disso não é mais possível.
Existem 2 cerimônias importantes que um recém-nascido deve passar através de Ifá que visam determinar o Odù de nascimento e também a ascendência daquela criança (se pelo lado da mãe ou do pai), seus orixá (Òrìṣà).
E mais, nunca vi essa cerimônia em Tratado cubano de Ifá. Minha opinião é que os Cubanos desconhecem isso, assim, como desconheciam fazer Bori, tiveram que aprender a fazer aqui no Candomblé, de forma bem torta, pagando para receberem Bori e prestando atenção em tudo para depois copiar.
Eu vou explicar essas cerimônias de nome aqui no blog na próxima postagem.
Nesta primeira postagem eu quero apenas voltar ao assunto para dizer que Odù de nascimento Não é determinado pela data de nascimento. Também não será determinado quando a pessoa já esta adulta.
Isso é feito por Babalorixás sem conhecimento (no caso do Odù por data de nascimento) e por Babalawo fajuto, no caso de determinar por Ifá o Odù de nascimento de pessoas adultas.
Na próxima postagem vou explicar as cerimônias que são feitas
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