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quarta-feira, janeiro 13, 2021

O Égbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e os Àbíkú - A visão de Alex Cuoco [ Entendendo a religião Yoruba - Pt. 42]

 

A visão de Alex Cuoco

 

Alex Cuoco é um brasileiro que foi viver ainda jovem nos EUA. Ele publicou um livro excelente chamado “African Narratives of Orishas, Spirits and Other Deities”. É um equivalente ao livro do Prandi, “Mitologia dos Orixá”, mas o Prandi mistura muito no seu livro, ele inclui patakis cubanos e isso deturpa muito o que ele mostra.

O livro do Alex Cuoco é bem extenso, são quase 1.000 páginas, mas, contém bastante texto e Òrìṣà (Orixá). Neste livro ele tem muitos mitos sobre Àbíkú e um resumo no final. É sobre o que ele sintetizou em seu resumo que vou descrever a seguir, visto que é um resumo dos diversos mitos que estão no livro.

Segundo Alex, os Àbíkú são um fenômeno comum entre diversos povos da mesma região. Os yorùbá, Akan, Nùpe, Ìgbò, Hausa e Fante acreditam na mesma coisa. De fato existe um compartilhamento de crenças religiosas por povos desta região que, mesmo sendo de culturas diferentes e tendo cultos religiosos distintos, possuem muitas crenças em comum.

Eles acreditam que os espíritos Àbíkú residem em áreas desabitadas, florestas e áreas arborizadas, principalmente em torno de árvores de Ìrókò. Os Àbíkú ficam em trânsito entre o órun (Ọ̀run) e o Àiyé permanecendo por pouco tempo na terra.

Os Àbíkú fazem parte de uma sociedade chamada “Égbe (Ẹgbé) Ará órun (Ọ̀run)” que tem meninos e meninas e, cujos garotos, são liderados por uma deidade chamada Iyàjanjàsá e, as meninas, são chefiadas por uma deidade chamada Olóìkó. Contudo foi Ọlọ́fin Aláwaiyé aquele que trouxe eles para dentro do mundo pela primeira vez para a cidade de Awaiyé, em um grupo de 208 Àbíkú. É em Awaiyé que pode ser encontrada a floresta sagrada do Àbíkú onde os pais dos Àbíkú vão fazer suas oferendas de maneira a manter suas crianças no mundo. A cidade de fato existe.

Seguindo os textos bases, os Àbíkú vão do órun (Ọ̀run) para o Àiyé e declaram para Oníbodé suas intenções o tempo que ficaram no mundo (curto). Eles prometem a seus companheiros retornar independente dos esforços que seus pais façam para eles ficarem.

Quando o tempo de partida chega seus companheiros vão para o Àiyé para lembrá-los de suas promessas. No Àiyé os companheiros residirão em áreas como pântanos, rios, os muros das casas onde moram seus companheiros renascidos, nos banheiros das casas e nos quintais. Os quintais são os lugares preferidos porque é neste local que os yorùbá enterram as placentas depois que são colocadas em um jarra chamada de Isásùn a qual é coberta com folhas de palmeira e búzios. É a partir desses lugares que esses emissários chamam seus companheiros renascidos para voltar para casa ou ficam atormentando os que decidiram ficar.

O pacto entre os membros do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é bem sério e os Àbíkú que não renasceram farão de tudo para que ele seja comprido. Existe a capacidade dos pais, através de Ifá, fazerem o alma do filho de romper com essa sociedade e a alma pode, assim, se libertar desse ciclo de vidas curtas. Uma vez feito isso eles nunca mais serão importunados pela sociedade egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).

Como parte do pacto o Àbíkú renascido deve compartilhar aquilo que ganha com seus companheiros, desta forma, uma criança Àbíkú sofrerá de mal-nutrição, porque, o que come, será compartilhado entre seus companheiros. Os companheiros manterão contato com o renascido continuamente para que esse não esqueça de sua promessa. Os companheiros surgem em sonhos e poderão causar acidentes e doenças.

O Ṣáworo é um recurso usado para afastar os companheiros, trata-se de um cordão com um guizo amarrado, que é colocado no calcanhar das crianças e este barulho afasta os Àbíkú. O mesmo é considerado para roupas vermelhas. Além deste tipo com guizo, o Ṣáworo pode ter outros modelos. Muito anteriormente era feito com búzios, depois passou a ser anéis de ferro, mesmo se o guizo. Este modelo de apenas um anel de ferro, na verdade mais de um que fazem barulho quando a criança de move é, possivelmente o mais tradicional e conhecido.

Um recurso mais desesperado das mães é fazer pequenas incisões na pele da criança e esfregar pimenta para causar dor ao Àbíkú e eles deixar o corpo da criança. Nesse caso é considerado que o espírito Àbíkú reside no corpo da criança junto com a alma verdadeira e, desta forma, poderia ser expulso.

Quando uma criança Àbíkú morre é dado um péssimo tratamento para o corpo. Existem casos no qual ela não é enterrada, sendo deixada na floresta para apodrecer. Outras é enterrado em florestas distantes da casa dos pais. Ainda existe o hábito, como descrito no texto do Salami de mutilar o corpo da criança e a mãe invoca maldições e pragas para aquele Àbíkú, antes de enterrá-lo. Eles acreditam que o Àbíkú ficará com medo da mãe e não voltará assim como o corpo mutilado não atrairá mais. Também acredita-se que o corpo do próximo nascido poderá ser pesquisado se tem as mutilações que foram feitas no anterior, como também descrito no Salami.

 

 

... CONTINUA ....

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