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sábado, julho 27, 2019

A matriz religiosa afro-brasileira

A matriz religiosa afro-brasileira


Esse blog fala de Candomblé e Ifá mas existe um tema importante que é o que esta além do Candomblé no Brasil.
O candomblé, como já é extensivamente explicado em outro texto deste BLOG, é o culto de Orixá (òrìṣà) no Brasil. Ele é composto, na verdade não por uma unidade, mas sim por vários cultos distintos e estes tem raízes religiosas bem diferentes, isto é, cultos que representam matrizes religiosas originais distintas e por esta razão não deveriam ser nomeados juntos. Mas, aqui no Brasil, essa diversidade religiosa afro-brasileira recebeu o nome comum de “Candomblé”.
É importante estar atento para o fato de que nem tudo que faz parte da dita matriz religiosa afro-brasileira é Candomblé.
Sobre religiosidade afro-brasileira, temos que lembrar que a África é um continente e falar de África como a gente fala é por princípio um grande erro. Quando falamos de afro ou África estamos nos referindo a influência de um conjunto restrito de etnias da África central, a África das florestas. Não estamos falando da saariana ou da áfrica oriental e muito menos da meridional, a das savanas, estamos falando da subsaariana, a África negra.
A África não é um continente homogêneo e muito menos negro, nós nos referimos aqui como se a África negra, a subsaariana, a África das florestas, resumisse tudo. Se fossemos ser corretos, ao falar de matriz religiosa afro-brasileira deveríamos incluir o judaísmo e o islamismo.
Assim, nossa matriz afro-brasileira está ligada a África negra, subsaariana, porém mais restrito ainda, estamos nos referindo ao golfo do Benin, um pedaço pequeno da África, porque foi desta área que vieram os grupos étnicos que vieram para o novo mundo, para o Brasil, através da diáspora negra.
Na matriz afro-brasileira também se inclui o grupo Bantu, do Congo-Angola, mas esse grupo tem uma influência muito pequena nessa matriz.
A matriz afro-brasileira é bem maior do que o Candomblé, este, o Candomblé, é apenas o grupo religioso mais conhecido em grandes centros do sudeste. Existem muitos outros cultos afro-brasileiros.
Eu recorri a algumas fontes formais para não cometer muitos enganos e achei uma boa variação, o que mostra que, de fato esse é um assunto que merece ser abordado. Não existem um consenso muito fácil no assunto.
Eu usei o bom sendo, a pesquisa complementar e a minha vivência para me posicionar aqui nesse texto.
O que é fácil de ver é que todo mundo fala de boca cheia e existe pouca ou nenhuma precisão sobre o que estão falando. Matriz religiosa afro-brasileira virou um daqueles adjetivos para descrever qualquer coisa que você não quer se dar o trabalho de aprender ou entender.
Minha lista de tradições de religiões da matriz afro-brasileira é:
No norte:
  1. Babaçuê (PA)
  2. Tambor-de-mina (MA, PA)
No nordeste:
  1. Xangô ou Nagô (PE)
  2. Culto egungun (BA)
No sudeste
  1. Candomblé Jeje (BA, RJ)
  2. Candomblé Ketu (BA, RJ, SP)
  3. Culto de Ifá (RJ, SP)
No sul:
  1. Batuque (RS)


Não estou preocupado com as reclamações e contestações sobre essa lista. Faça a sua. Eu fui muito cuidadoso ao montar a essa aí. Tive o cuidado de excluir tradições que já estão extintas.
Observem que o Candomblé é apenas uma parte disso. No norte e nordeste temos 3 tradições diferentes e mais a casa das minas que não vou incluir porque ela não tem futuro. O Xambá já foi descrito de forma separada e era uma tradição religiosa de Pernambuco, mas é considerado extinto.
O Candomblé, possivelmente a mais conhecida tradição afro-brasileira, deve ser entendida primeiro a partir de suas 2 tradições, A tradição Jeje e a tradição Yorùbá. Ambas tem sub-divisões, sendo no caso Yorùbá com o Ketu, o Efon o Ijexá e outros. No Jeje temos o Mahi e o Savalu.
Eu não tenho muita informação sobre as demais, esse assunto de tradições religiosas é amplo demais e documentado de menos. É muita informação dispersa. O Batuque do sul, por exemplo, tem umas 3 ou 4 subdivisões.
O assunto tem um emaranhado de sub-divisões e pouca clareza para ser abordado, é muito fácil gerar complexidade e confusão sobre o tema.
Assim, uma vez explicado o panorama, minha contribuição para entenderem é a seguinte:
Estamos tratando de uma influência religiosa que teve origem na região da áfrica central subsaariana, na verdade mais fortemente da África Ocidental e mais especificamente do Golfo do Benin. Essa é a origem das religiões que geraram tradições religiosas aqui no Brasil, a fonte do que estamos tratando disso é uma região bem específica, o Golfo do Benin.
Existe também uma outra área de origem de influência, bem menor, na África central, a África das florestas úmidas, uma origem baseada no povo Bantu, que trouxe para o Brasil a Quimbanda. O povo Bantu é muito numeroso na África, certamente é o maior grupo étnico mas esse grupo, depois da diáspora negra, não influenciou nenhum lugar para onde foi, diferente do grupo Yorùbá, que em todo lugar que se estabeleceu ele criou raízes e influenciou a sociedade.
Esse comentário é baseado em fatos e análises. Os Bantu e suas divisões foi a etnia das primeiras levas de pessoas escravizadas que foram enviadas ao novo mundo. Milhões vieram ao Brasil. Foi o primeiro grupo e mais numeroso.
Contudo, aqui no Brasil como em todo lufar que foi o grupo Bantu não gerou impacto social relevante em nenhum destino se comparado com o grupo Yorùbá que para onde foi criou marcas na sociedade, seja com cultura, arte, ou religião.
A influência religiosa do grupo Bantu no Brasil é de nenhuma a muito pobre. Os Bantu trouxeram o que foi chamado de Quimbanda, Quiumbanda, ou macumba, uma prática de feitiçaria que foi extinta ao longo do século XX e totalmente absorvida pela Umbanda.
O grupo Bantu não trouxe uma religião. Certamente esse culto de Quimbanda poderia ser listado coo parte da matriz afro-brasileira, independente da sua qualidade, mas, isso acabou, eles tiveram que virar Umbanda, para a infelicidade da Umbanda.
Do grupo relevante para a matriz, o do golfo do Benin, vieram 2 religiões distintas, a do grupo Yorùbá e a do Grupo Jeje. Quando digo religião diferente é porque é isso mesmo, religiões distintas.
A matriz religiosa afro-brasileira é composta assim de tradições ligadas a essas 2 raízes religiosas separadas.
As tradições religiosas derivadas dessas raízes religiosas, se dividem geograficamente no país (norte, nordeste, sudeste e sul) e essas tradições são composta ainda por subgrupos. Esses sub-grupos, como hoje são mais comuns os grupos do Ketu e Efon tem ainda outras divisões ligadas as origens históricas, as casas matrizes.
Dessa forma se estamos falando de Candomblé Ketu, temos ainda mais divisões, que são as raízes das casas, os axés, que geram outros sub-grupos com variações na prática ritualística. Simplificando bastante, temos casas ligadas ao Axé da casa branca, do oxumarê, do apo afonja, etc…
Ainda no grupo Yorùbá temos a tradição religiosa do culto de egunguns. Teve origem bem específica na Bahia, foi trazida tardiamente mas esta estabelecida, tem origem real no povo Yorùbá e papel na religião e tem casas em outros lugares do Brasil além da Bahia.
A tradição de Egungun está ao lado da tradição de Orixá (Òrìṣà) e é independente do culto de orixá (Òrìṣà). Tudo é interligado pela religião mas são independentes.
O Ifá faz agora parte deste contexto. É similar ao culto de Egungun nesse aspecto. Ele foi introduzido bem mais tardiamente (fim do século XX e início do XXI), está se estabelecendo a partir do Rio de Janeiro e São Paulo e é uma tradição muito nova ainda está em formação no Brasil. O que temos são práticas importadas de Cuba de do Golfo do Benin.
Na raiz do Jeje também existem cultos similares, existe o Fá que é equivalente ao Ifá e tem um culto de Egungun, mas, desconheço que ambos tenham vindo para o Brasil, no caso do Jeje o que veio para o Brasil foi apenas o culto de Orixá (Òrìṣà).
Lembro que esse é um blog com foco na religião Yorùbá, dessa maneira não tenho propriedade para falar sobre tudo, me restrinjo ao contexto que eu me propus. Nesse tema de matriz religiosa estou comentando sobre a sua composição mas não vou fazer detalhamentos, para isso teria que buscar isso e no momento isso não me interessa.
A raiz religiosa Yorùbá foi a que se estabeleceu mais amplamente, como eu disse antes, esse povo, o Yorùbá tem uma cultura relevante que se populariza para onde vai. Apesar de ser um povo pequeno de uma região restrita na África não pode ser ignorada a sua relevância e influência para onde vão e sua capacidade de exportar isso.
Aprofundando mais o entendimento na religião Yorùbá, a raiz religiosa Yorùbá tem pelo menos 3 cultos principais: Orixá (Òrìṣà), Egungun e Ifá. Dessa maneira as casas religiosas se agrupam em sendo de um desses cultos, atenção uma casa somente pretence a um desses cultos, não existe casa que pertença ou tenha mais do que 1 culto.
Isso adiciona mais um complicador a este assunto, mas é isso mesmo, assim, revisando, temos a raíz religiosa Yorùbá, depois temos dentro dela temos 3 cultos: Orixá (Òrìṣà), Egungun e Ifá, e abaixo deles temos, para o culto de orixá (Òrìṣà) mais 2 níveis de divisão, a nação e as raízes de axé (àṣẹ́) das casas.
Para o caso de Egungun eu desconheço divisões, não tenho essa informação, mas, em função de sua origem comum não creio que exista.
Para Ifá não existe divisões, o que temos aqui são cultos estrangeiros de 2 origens distintas, os cubanos e os africanos, mas, esses são cultos estrangeiros não fazem parte da matriz afro-brasileira.
O que fará parte da matriz afro-brasileira será o Ifá brasileiro, quando ele estiver estabelecido e para ele se estabelecer como parte da matriz vai ter que ser internalizado pelos brasileiros adotando nossa sociedade e cultura. Não podemos considerar esses cultos estrangeiros de cubanos e africanos como parte de nossa sociedade e muito menos como parte da matriz religiosa.
A matriz religiosa se atualiza com coisas novas e com a saída das velhas, ela está viva, mas estrangeiros não fazem parte disso. Pode ser que no futuro tenhamos um Ifá com 2 divisões, não podemos dizer isso ainda.
Dessa forma temos uma hierarquia de pelo menos 4 níveis até chegar na casa efetivamente. Por essa razão é que entender esse assunto requer cuidado, é muito fácil se perder ou não entender nada do que se está falando.
Como podem ver esse excesso de diversidade é o que gera a dificuldade de entendimento e a confusão, as pessoas misturam as coisas no nível mais externo a ponta do detalhamento, as casas e misturam ou comparam elas sem amarrar as origens superiores. Você tem que amarrar a casa a sua raiz superior para saber com o que está lidando e antes de falar ou comparar casas deve saber se está falando da mesma coisa.
Uma coisa ou melhor uma casa só esta correta se ela tem uma relação unívoca com essa hierarquia, assim, não será uma casa correta se tiver relação com orixá (Òrìṣà) e Umbanda, não será correta se na mesma casa você tiver orixá (Òrìṣà) e Ifá, ou orixá (Òrìṣà) e Egungun.
Entender a casa depois de entender essa estrutura da matriz religiosa afro-brasileira facilita muito fazer uma avaliação dela. A gente que está dentro da religião usa esse conhecimento para fazer nossas avaliações e dizer que uma coisa esta certa ou errada. Um dos primeiros critérios que a gente usa nas nossas avaliações e julgamentos é esse posicionamento na matriz.
Como eu disse relações unívocas e o que é isso. Isso significa que uma casa somente esta ligada a uma coisa. Ela não pode ser de Ketu e Efon, ela não pode ser Yorùbá e jeje, ela não pode ter ligações laterais como, ser também de Umbanda e Ifá, etc…
Isso é o certo. Em relação aos estrangeiros eles aqui fazem o que querem.
Os estrangeiros trouxeram o culto de orixá (Òrìṣà) através da RTY e da Santeria, trouxeram o seu Ifá, trouxeram, o Palo cubano e outros, quem sabe. Mas isso ai não é brasileiro, não é parte de nossa matriz. Isso é estrangeiro.
Para quem está dentro do Candomblé isso é uma coisa que se aprende com o tempo, para pessoas de fora é quase incompreensível.
Isso tudo eu estou falando de Candomblé Ketu, imagine as demais tradições. É muito fácil se perder, mas, na verdade, o assunto é simples, é a falta de conhecimento que faz isso complicar.
Vamos a outros comentários adicionais no sentido de estabelecer umas negações.
Fazendo referência ao que vi na wikipedia, eles ERRADAMENTE relacionam os seguintes cultos aos Bantus:
  • Candomblé de Caboclo
  • Xambá
  • Catimbó
  • Pajelança
  • Toré
  • Umbanda
  • Cabula
Essa lista ai é um absurdo e um dos motivos da gente sempre ter um pé atrás com a wikipedia.
Vamos la, Candomblé de Caboclo já está extinto, era uma ligação com o Candomblé Jeje com Caboclos brasileiros, era uma mistura mesmo, um sincretismo, teve origem na Bahia na região do recôncavo e como tudo o que é inventado e sem raiz, acaba.
O Xambá foi outra invenção, em Pernambuco, estava ligado ao Candomblé, uma mistura que do mesmo jeito que começou acabou.
O Catimbó, Pajelança e Toré são cultos ameríndios brasileiros, influenciados pelo catolicismo. Não tem nenhum vínculo com a África.
A Umbanda é uma religião brasileira, ela não faz parte do contexto afro-brasileiro. Essa não é apenas uma afirmação minha é a história da Umbanda que mostra isso e qualquer pessoa que conheça o assunto sabe disso.
A Umbanda é altamente sincrética e com o passar de muitos anos ela absorveu alguns cultos afros que acabaram desaparecendo. Todo o grupo Bantu que promovia a Quimbanda ou a Macumba acabou, sua prática foi superada pela Umbanda.
Esse grupo Bantu, de prática religiosa bem pobre e objetiva voltada para a troca de favores e mercantilização desta atividade eram os feiticeiros. Uma parte se travestiu de culto de Orixá (Òrìṣà) e virou o Omolokô. Outro, a maioria se transformou em casas de Umbanda, assim se autodeclarando.
Foi esse grupo que ao ser duramente digerido pela Umbanda trouxe a africanização do formato da Umbanda e essa africanização estética faz as pessoas pensarem que a Umbanda seja parte do contexto afro-brasileiro. Não é, mesmo tendo incorporado alguns elementos africanos, como os tambores, a Umbanda é um culto e religião distinta e brasileira.
O Cabula é um culto de origem malê e dessa forma islâmico. Era conhecido como a maçonaria dos negros.
As pessoas têm o mau hábito de associar tudo o que não faz parte do grupo do golfo do Benin como sendo Bantu e isso é bobagem.
O que faz parte do grupo Bantu é a Macumba ou a quimbanda e isso acabou.
O mesmo texto da wikipedia também faz referência a outras cultos como sendo afro-brasileiros:
  • Culto dos egunguns
  • Encantaria
  • Jurema de terreiros
  • Jurema sagrada
  • Quimbanda
  • Quiumbanda
  • Omolokô
  • Terecô
Mais um monte de bobagens.
O culto dos egunguns é sim parte da matriz afro-brasileira, já listei. Ele está ligado ao grupo Yorùbá.
Encantaria, jurema de terreiro e jurema sagrada, são sinônimos para a mesma coisa é tudo Catimbó.
Quimbanda e quiumbanda são a mesma coisa, é tudo macumba bantu.
O terecô esta ligado aos cultos ameríndios.
O omolokô era uma mistura de Umbanda e Candomblé, uma coisa criada e sem origem e por isso mesmo, como eu disse acabou.
Por fim tenho que mencionar o conhecido Candomblé de Angola. O Candomblé de Angola foi uma invenção dos Bantus aqui no Brasil do fim do século XIX. Eles viam os Candomblé de Ketu e Jeje e não tinham nada equivalente, assim inventaram o Candomblé deles copiando o que os outros faziam, inventando divindades e usando a língua deles.
Hoje em dia ele substituiu o Omolokô no show de horrores que fazem com a religião afro-brasileira.
A minha lista de custos ameríndios é:
  • Catimbó
  • Toré
  • Terecô
Eu não conheço a citada pajelança, para mim isso é um ritual e não um culto.
A Umbanda, como eu disse é uma religião brasileira, foi criada aqui e não tem origem africana. A africanização é parte do processo de absorção e de sincretismo da Umbanda.












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