O livro de Maupoil em português
Finalmente o famoso livro de Bernard Maupoil - A adivinhação na antiga costa dos escravos, foi publicado em português.
Está disponível em grossa e boa edição pela Edusp. Mais um grande trabalho de Carlos Eugênio Marcondes de Moura.
Eu tinha a edição antiga em francês, mas nunca li, de fato, francês não é para mim, mas ganhei e guardei.
Esse livro lendário faz parte da história do Candomblé vou explicar isso em um texto que ainda não terminei. Para quem for ler atenção, ele não é sobre Ifá, ele é todo sobre Fá que é a variação de Ifá para o Dahomey.
O livro é voltado para Voduns e não Orixás, dessa maneira é um livro que vai interessar as pessoas que são do Candomblé de Jeje. não vejo ele utilidade para o Candomblé Ketu e as demais tradições afro-brasileiras que tem origem nos Yoruba.
Muitos podem agora estar perguntando que é esse Fá?
Fá é o Ifá no Dahomey.
Segundo Luis Nicolau Parés em seu livro A formação do Candomblé, p.274,
"... a mãe do rei Tegbesy, Na Huanjile, é geralmente tida como responsável pela introdução por volta de 1470, do culto Mawi-Lissa em Abomey, transformando esse casal de voduns em divindades genitoras e supremas, colocando-as na cumeeira de um panteão cada vez mais vertical e hierarquizado. Ao mesmo tempo a introdução do sistemas de adivinhação Fa, controlado exclusivamente por homens e a promoção do culto Nesuhue dos ancestrais como culto nacional, com precedência sobre o culto do resto das divindades públicas, contribuíram para uma crescente estruturação piramidal do sistema religioso."
Este trecho é parte do capítulo "O panteão Jeje e suas transformações".
Eu recomendo muito a leitura desse livro. Se o Parés estiver errado, não tem o que fazer, mas, considerando, suas obras e o seu estudo como uma abordagem séria isso significa que:
- O estabelecimento do panteão Jeje hierarquizado tendo a figura de Mawa-Lissa foi tardia e feita pela rainha. Lendo o livro a gente aprende que essa hierarquização não fazia parte da tradição Jeje.
- A introdução de Ifá na forma de Fá foi feita tardiamente
- A introdução do culto de egungun através do Nesuhue também tardiamente e uma imposição da Rainha.
Pode não parecer nada mas isso significa que foi a estrutura da religião Yoruba que influenciou e reorganizou o panteão Jeje e não o contrário!
O livro do Parés tem outros exemplos, nesse mesmo capítulo, quando ele trata de Sakpata, Omolu e Nana Buruku. Os estudos deles mostram claramente que a religião Yoruba influenciou o seu entorno, com idas e voltas do mesmo Orixá, ás vezes com nome novo e não o contrário
A leitura da segunda parte do livro dele é muito boa, mesmo para quem não se interessa pela religião Jeje.
Tem pessoas aqui no Brasil que acham que foi o Jeje que exportou divindades, que ele seria mais antigo ou influente. Infelizmente para elas, não foi assim.
O culto no abomey, o Jeje, era bem diferente antes e formado por famílias de Voduns (umas 3 famílias), independentes entre si, com quase nenhuma hierarquia. O conceito do Jeje era o de familia de divindades, com filiação entre os Voduns. Contudo esse nunca foi o conceito Yoruba para Orixá.
A hierarquização do culto Jeje, como mostrado por Parés, foi configurada por decreto, fazendo um espelho da religião Yoruba.
Recomendo muito a leitura deste livro do Parés.
O livro do Mapouil é importante para entender um aspecto do nosso Candomblé, vou abordar isso no texto que estou fazendo sobre a história de Ifá no Brasil.
Mas antecipando, a forma de Ifá que existe no candomblé, com um entendimento próprio de Odù, que é diferente do que os Cubanos e Africanos trouxeram, é devido as pessoas na década de 90 terem usado esse livro como base para estruturar isso.
Só que esse livro é sobre Fá, sobre Vodun.
Isso explica como surgiu também essa grande mistura de vodun e Orixá.
Mas basta abrir o livro na sua Parte II e você vai achar o Ifá que o Candomblé usa.
Eu queria ter mais tempo para poder explorar todos esse temas, mas, vamos nos virando com o que dá tempo.
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