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sexta-feira, maio 08, 2015

Como determinar a orientação do Odù em Ifá

Como determinar a orientação do Odù em Ifá


Revisão 2


Este é um daqueles temas que neófitos podem ter dificuldade para entender. Eu lamento quando as pessoas têm dificuldade para entender os temas escolhidos, não é minha intenção ser hermético ou elitista, mas, existem assuntos que precisam ser abordados.

Eu estou republicando vários textos sobre Odù e já falei sobre os Odùs negativos no Candomblé, já expliquei também o que é Odù e já comentei sobre os tais Odù de nascimento. Não posso deixar de comentar novamente sobre Odù negativo porque em outro texto eu critiquei a forma como pessoas do Candomblé assustam consulentes com isso.

Eu disse que não existem Odùs negativos por definição e, em Ifá, o que fazemos é determinar a cada consulta como aquele Odù veio. Este texto vai explicar o que isso significa e como fazemos isso.

Para quem não leu ainda eu recomendo que vejam os textos anteriores, tem informações interessantes para quem se interessa por oráculos.

Partindo do ponto que todos entendem o que é um Odù (se não sabem devem ler o texto explicativo anterior), um odu pode ser apresentar em uma consulta de 2 formas: Ire e não ire, ou como as pessoas gostam de dizer positivo ou negativo. São 2 informações distintas, a primeira é o Odù, a segunda que o complementa é como ele se manifesta. Essas 2 informações são independentes, qualquer Odù pode vir e em qualquer estado, ou melhor, receberemos o Odù adequado à consulta no estado que representa a situação.

Eu não gosto de chamar de positivo e negativo. A gente diz que ele vem trazendo bençãos, quando vem em Ire ou vem removendo problemas quando vem no outro estado. Devo lembrar que o Odù não traz nenhuma negatividade. Já comentei isso. Ele sempre traz uma solução para você. O problema você já tem, ele vem apenas nos indicar qual o problema.

Um dos estados é o IRE, que seria equivalente ao “positivo”. Em IRE um Odù vem trazendo bençãos para o consulente, bençãos que ajudarão o consulente no que tem que realizar, viver ou conquistar. É como se você já estivesse bem e precisasse de um empurrão de axé para realizar o que deseja.

Todo mundo gosta de receber um Odù em IRE, claro. Acima de tudo isso diz que aquela pessoa está bem e que Òrúnmìlà lhe traz mais bençãos.

Quando não está em IRE ele está no outro estado que tem vários nomes. Seria equivalente ao estado “negativo”, mas minha posição sobre isso é outra e vou repetir aqui. Um Odù JA-MAIS e negativo ou traz negatividade. Um Odù sempre é uma coisa boa, sempre é uma energia positiva, o que muda é o que ele vem resolver.

Assim, o outro estado é chamado pelos africanos de Ibi ou Àyèwò e pelos cubanos de osogbo. Cada tradição chama de uma forma. Neste estado ele está indicando que vem TIRAR um mal de você, uma negatividade.

Muitos Bàbáláwo não aceitam que Ifá possa prever o mal para a pessoa e, assim, eles usam uma expressão alternativa para o estado de Ibi, que se chama Àyẹ̀wò, um questionamento. Os cubanos não falam Ibi, eles usam Osogbo, que significa que não é Ire.

Dessa maneira eu vejo que o Odù pode estar trazendo positividade ou removendo negatividade.

Lembrem que um Odù é um “contêiner de energia” com muitas mensagens, algumas similares outras nem tanto.

Em uma consulta, através de Odù, primeiro se tira o Odù principal. Este Odù é o que determina toda a interpretação da consulta. Os elementos adicionais, que se seguem a esta determinação, apenas vão detalhar e especificar o assunto para aquela pessoa em particular.

Após o olhador determinar qual é o Odù principal ele deve determinar a sua orientação. Não se trata aqui de saber se é positivo ou negativo e sim de saber a sua orientação. Esta é a primeira bobagem que se fala quando não se entende com o que esta lidando, com Odù, é claro.

Como eu disse o Odù tem eu seu corpo literário muitas mensagens e significados. Eles não acontecem todos ao mesmo tempo. Temos que determinar qual mensagem se aplica aquela situação.

Para auxiliar a interpretação do Odù principal, para o caso em questão, é necessário o suporte de outras informações. A primeira delas é entender a orientação do Odù. A segunda será a agregação de significados desse Odù, que determinou esta orientação, na interpretação do Odù principal.

Em ifá, a determinação da orientação, é parte obrigatória do processo de consulta, na realidade não tem consulta sem isso, mas, no uso dos búzios esse processo se perdeu ou, mesmo, nem foi aprendido por muitos que hoje usam os búzios.

Muita gente deduz pelo próprio Odù se ele é positivo ou negativo, criando desta forma uma convenção, própria, de Odù sempre positivo e outros sempre negativos. Outras pessoas podem usar características da caída para determinar isso e outras, ainda, a sua própria intuição. Tudo isso esta errado.

Para se determinar a orientação do Odù deve-se usar o processo do ìbò que vem a ser um dos pilares do oráculo de Ifá. O uso do ìbò é uma forma de envolver diretamente o orí do consulente na consulta do oráculo, criando, assim, uma interatividade. Não devemos aceitar um processo de Ifá sem a interação com o consulente e sem o uso do ìbò para isso.

Infelizmente a prática de usar o ìbò junto com o consulente, foi extinta com os búzios e está deixando de ser feita até mesma em Ifá. Pura preguiça.

O processo de ìbò é um tipo de consulta que busca uma resposta binária, sim ou não. Em Ifá tradicional através do ọ̀pẹ̀lẹ̀ ou dos ikin pode-se ainda usá-lo para a escolha de uma entre várias alternativas simultâneas, mas em owó-ẹyọ mẹ́rindílógún ele é usado apenas para uma decisão entre 2 alternativas.

Antes de entender o processo de consulta deve-se entender o que significa de fato os estados do Odù:


IRE
Quando um Odù vem em ire, ele traz com ele bênçãos que estão associadas com as características mais positivas. Esta energia vem para oferecer benção, fortuna, novas oportunidades, um fluxo de entrada de energia e de evolução.

Em um escopo mais amplo, a pessoa para a qual o Odù vem em IRE entende que a energia será presenteada pelo Odù em duas maneiras. Uma forma sutil ou explícita no seu ego. Este entendimento cria um equilíbrio. A natureza de IRE reflete um estado de harmonia ou equilíbrio com a energia do Odù até mesmo se a pessoa de modo consciente não reconhece que isto está ou ocorrerá.

O objetivo do Oráculo é restaurar e manter o balanço na vida de cada indivíduo, reequilibrando suas energias. Um Odù que vem em IRE confirma que a pessoa está favorecida com este estado de equilíbrio.


IBI / Àyèwò / Osogbo

Africanos não gostam de algumas palavras. Assim usam para significar Ibi, a palavra Àyẹ̀wò. Os Cubanos usam a palavra Osogbo que significa que não é Ire.

Um Odù que surge em estado de Ibi frequentemente traz com ele os aspectos mais negativos de sua natureza e é isso que devemos considerar ao analisar as mensagens do Odù. As energias operando em estado de Ibi tendem a serem mais desafiadoras para a pessoa e traz com ela a ajuda a obstáculos que devem ser removidos, problemas a serem solucionados ou lições que poderão ser difíceis para aprender ou entender.

O Odù em IBI não é duro ou difícil, duro é a situação que a pessoa já está ou o caminho que ela vai ter que trilhar.

Ibi pode indicar uma falta de balanço, equilíbrio ou resistência no aspecto metafísico de relacionamento entre a pessoa e a espiritualidade.

A pessoa pode ser dita estando em um estado de falta de entendimento dos desafios e e lições apresentados por este Odù de forma que se caracteriza um desequilíbrio destas energias que afetam a sua vida.

Ibi é com o um amigo sábio que é candidamente honesto. Ele se apresenta para oferecer pílulas amargas que são duras de engolir, mas este remédio trará à pessoa uma oportunidade para ganhar e aumentar o entendimento de si mesma e sua compreensão do seu papel no mundo de uma forma ampla. Ibi não é uma alguma coisa para ser temido, mas ao invés disso estudado e entendido. Debaixo desta corrente de energia desconexa se deposita uma oportunidade de recuperar o equilíbrio uma vez que o desafio que é apresentado é aceito e entendido.

O Ìbò será usado e 2 caídas de búzios definem qual o Ìbò selecionado e qual o estado do Odù. Dessa forma se entende como aquele Odù está se manifestando na vida da pessoa. Além disso o Odù que escolheu o Ìbò vai se incorporar a interpretação, sendo usado para explicar ou detalhar o principal.

Dois Ìbò são dados para o consulente segurar nas suas mãos, sem que o olhador saiba em que mão estão. Um deles significa SIM e o outro NÃO.

É feita a pergunta ao Oráculo: O Odù é Ire?

O Bàbáláwo ira tirar 1 ou 2 Odù e em função da senioridade deles escolherá uma das mãos sem saber o seu conteúdo. Quando a mão se abre o tipo de ìbò determina se a resposta é sim ou não. Se for SIM o Odù esta em IRE. Se for não está em IBI.

O babalawo não consegue desta forma controlar a resposta. O Oraculo decide sozinho e o consulente participa desta resposta.
Outros processos se seguem para melhorar o entendimento: 1) se aquele Odù ja está se manifestando na vida da pessoa ou não; 2) qual o tipo do Ire ou Ibi; 3) qual a sua origem.

Juntando todas essas informações o olhador pode enfim interpretar o Odù para o consulente.

Observem que todas as perguntas ao oráculo devem ser respondidas com o ìbò. Os jogos nos quais o olhador faz a pergunta e ele mesmo responde sozinho não são jogos que seguem Odù e a metodologia de Ifá.

Oráculo não é adivinhação, é um processo transparente de comunicação com o divino e que qualquer pessoa que entenda pode acompanhar uma consulta.

3 comentários:

  1. Tenho uma dúvida! Digamos que um Psi indique uma condição não satisfatória, um problema de saúde, para amenizar ou talves resolver essa situação, se fortalece os Orixás ligados ao Odu ou não seria esse o entendimento? Obrigado.

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  2. Muito boa a explicação

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