Os jogos de confirmação em Ifá e no Candomblé
Os jogos de confirmação são aqueles feitos para confirmar liturgias do Candomblé. São Oráculos relativamente simples mas extremamentes importantes, porque o Oráculo é a forma oficial de comunicação entre o aiye e o Órun, entre nós e o divino.
Quando fazemos algo direcionado ao divino, primeiro devemos ter consultado o divino através de um Oráculo. Não existe receita pronta ou "piloto automático". Se necessitamos do divino, dos Orixás, devemos consulta-los para saber se: somos mercedores? O problema pode ser resolvido por eles? O caminho para resolver é a pessoa que procuramos? Qual o processo ou elemento adequado?
Tudo isso é importante. Para uma oferenda ter resultado deve existir uma boa causa, o merecimento, os meios e a pessoa que manipula isso. Por essa razão algumas vezes (ou muitas...) pessoas não obtêm o que querem, ou jogam seu dinheiro fora (na industria sem ética dos favores pagos).
O errado não é o divino e sim essas condições. Assim, você pode estar precisando e merecer, mas, se usar o processo errado ou a pessoa errada poderá não chegar a lugar algum. Por essa razão sempre tome cuidado com a industria dos favores pagos. Rara é a ética nas pessoas que vivem de vender favores de intermediação ao divino.
Isso vale desde uma obrigação até uma simples oferenda ou ebó.
Assim, desde que você saiba o que esta fazendo, como esta fazendo e com quem esta fazendo, os oráculos de confimação são o último recurso que se lança mão para evitar enganos. Na verdade se bem usados impedem que você cometa uma besteira e também permitem ao sacerdote ético saber que ele pode estar cometendo algum erro.
Por excelência o Oráculo de confirmação é o Obi. É ele que deveria ser usado antes de qualquer trabalho, ebó, oferenda ou cerimônia. Eu vou publicar na sequência um Itan sobre o Obi que deixa claro porque o Obi é o instrumento que deve ser usado para essas confirmações.
No Ifá cubano usa-se casca de coco para substituir o Obi. Entendo que Cuba é um luga que esta em outra latitude, diferente do Brasil e Nigéria e que folhas que encontramos aqui e na Nigéria não existem lá, favas não existem, animais, etc... Assim eles procuraram uma forma de fazer um oráculo sem usar o Obi, buscando similaridade com o conceito do Opele. Mas aqui no Brasil não temos esse problema.
No Candomblé, possivelmente por economia e alguma falta de material (o que duvido muito) se desenvolveu, em larga escala de uso, outro instrumento, a Cebola, aliás muito menos adequado do que os cocos cubanos. Esses últimos, os cocos mantêm a característica de concavo-convexo do opele.
Mas independente desses materiais existe ainda um outro instrumento que todos podem ter, os 4 búzios de exu ou mesmo o próprio erindinlogun. Eu acredito que conseguir 4 búzios não seja dificuldade para ninguém e não justifica o uso, no Camdomblé, de nenhuma cebola.
O Orogbo é também um instrumento de confirmação assim como o cara. Mas, ambos, de uso mais restrito. No caso do orogbo é usado para Xango e o cara em situações muito especiais para Oxalá.
Mas indo ao tema do texo, os jogos de confirmação devem ser usados em 2 momentos. Primeiro eles devem ser usados antes de se iniciar qualquer procedimento. Você deve confirmar se esta tudo pronto para começar ou se algum ajuste deve ser feito. Observe que isso é feito mesmo após você ter tomado todos os cuidados na consulta principal ao oráculo que definiu o que fazer. Mesmo que você tenha perguntado tudo com detalhes, antes de iniciar você deve confirmar.
Minha experiência mostra que muita coisa muda. Assim, desde uma oferenda até um Bori, quase sempre o oráculo faz algum reparo, complemento ou correção. Cada pessoa é uma pessoa e não se aplica tudo igual como se fosse uma receita. Ninguém deve se preocupar com isso. Ao receber uma negativa antes de iniciar, se explora essa resposta para descobrir onde esta o problema. Poder algo que falta, poder ser uma variação no processo, pode ser um problema com a própria pessoa que vai fazer (o babalawo ou babalorixá) que não se preparou adequadamente, pode ser com o local ou casa.
Somente se inicia com sinal verde. Se não se obtêm essa confirmação, não se inicia. Perder algum manterial ou tempo não significa nada.
As pessoa tem terror de oráculos de confirmação. Eu os adoro. Quem esta preocupado com o bem do que faz se protege com essas confirmações. Todo Bori tem um senão, raros são os casos que não existe uma instrução adicional qualquer. Já vi inclusive situações que não era para começar, ou seja, não fazer aquele dia ou com aquela pessoa. Se a gente tem Fé de fato, temos que confiar nesses oráculos.
No fim do que foi feito se faz nova confirmação. Essa é a mais complicada porque vai dizer se o que foi feito foi ou não aceito. Se der negativa então temos que buscar ali mesmo novas instruções. Pode ser para fazer tudo de novo (e temos que saber a causa) pode ser que temos que complementar. Uma pessoa errada que participou, uma forma errada podem por tudo a perder. Se confirmamos no início não vai haver erro com os materiais, mas a condução, as pessoas, o seu coração, sua alma e seus pensamentos só aparecem durante.
No fim, se usa o mesmo oráculo do início para a segunda confirmação. as vezes se abre um novo Obi, tudo depende da liturgia ou do babalawo.
Se um babalawo receber um NÃO ela vai continuar o seu procedimento de modo a corrigir. Se esta no Opon vai continuar com outro tabuleiro buscando o objetivo final ou então abrir novamente o oráculo para saber o que fazer.
Simples não? Sim, mas a pessoa tem que saber usar esses instrumentos e tem que prática e confiança neles. Só assim dá certo.
O objetivo aqui não é ensinar a usar esses oráculo, isso fica para outra vez, mas eles são muito completos. Um Obi é um instrumento simples e complexo. Ele esta muito além do sim e do não.
Nas mãos de quem sabe, o Obi fala.
O Grande engodo feito no Candomblé
No Candomblé a gente ve muitas coisas estranhas que fogem ao padrão. O problema é na falta de conhecimento e também na vaidade. A vaidade impede uma pessoa de ter a humildade de receber um não.
A primeira coisa de fazer chorar é a prática de se fazer a mesma pergunta inúmeras vezes. Observe o processo, a pessoa joga o Obi várias vezes e recebe NÃO, depois recebe um SIM e esse SIM anula todos os NÃO anteriores. Alguém pode achar que isso é correto? Faz algum sentido? Se não era para dar NÃO, não era melhor nem ter perguntado?
Você faz a pergunta uma única vez. Se veio SIM é sim, caso contrário a resposta é NÃO. Ou você aceita o NÃO ou você pergunta qual o motivo do não e como se corrige. Não se faz a mesma pergunta a um oráculo mais de uma vez! Esta é uma regra conhecida por todo mundo que usa oráculo.
Se tem dúvida você pode perguntar outra coisa que complemente, mas não se repete pergunta. Aliás quando a gente repete recebe logo uma resposta mal-criada do oráculo. Sabendo ler se percebe isso.
Em um Bori se joga para confirmar antes de iniciar. Mas e se a pessoa que esta jogando o Obi receber 3 NÃO? Ela faz o que? Passar para outro continuar a perguntar? E se continuar a sair NÃO? Vai se passando para todo mundo na sala até sair o SIM?
Pois eu já vi isso acontecer, sairam 5 NÃO antes de um SIM. Sinceramente sei lá como isso foi SIM. Mas, sem dúvida é um SIM poderoso!
No caso do Bori, por que as pessoas não aceitam que aquele Ori pode querer uma coisa diferente? Pode estar querendo mudar algo no processo? Não, a cegueira causada pela vaidade impede a pessoa de querer ver isso. Ela acha que as mesmas comidas sempre vão servir e o mesmo processo sempre vai servir e todo Ori sempre receber Obi e da mesma forma.
Ja vi em sacrificio para Exu, a pessoa usando os 4 búzios, receber 3 NÃO, depois o seguinte receber 3 NÃO e somente no terceiro aperecer um SIM. Sera que o Exu não queria falar algo?
Isso desanima, bastante quem é de Ifá e cujo culto e a vida seja o Oráculo.
Igualmente ruim é o desconhecimento sobre a forma de usar. As pessoas pegam aquele obi, colocam juntinho tudo, deixam ele encostado no chão e soltam fazendo de tudo para os segmentos caírem certo.... Ja vi a pessoa dizer que foi SIM quando haviam segmentos colados um no outro!! Como??
Muitos ainda usam o protocolo de considerar que 3 segmentos abertos são SIM. Não são. Ou seja tudo é feito para dar SIM.
Outro instrumento ruim é a cebola. A cebola não deve ser oráculo de nada. Não vou entrar no mérito de onde isso surgiu, suponho que ela seja o parente do coco cubano no Candomblé. Ela não tem consistência. Se tiver que ser usada mais do que uma vez, ela vai desmanchar. Mas a técnica de uso é simples, se abre em quadro, encosta no chão e solta os gomos (tudo para eles sempre abrirem). Claro, na rara hipótese de eles darem NÃO, joga-se de novo até dar SIM.
No caso do Orogbo existe muita confusão. As pessoas as vezes tiram a casca (!!) e também cortam ele em quatro como se fosse um Obi.... ou simplesmente ao meio, em 2 partes. Bom não é assim. Hoje em dia é muito fácil aprender qualquer coisa.
Além disso, ja vi outros instrumentos menos normais como a maça (?). Eu nunca vi nenhum mito sobre a maça, aliás, será que tem maça na Nigéria? Mas uma pratica estranha é a pessoa usar vários instrumentos ao mesmo tempo. Assim a pessoa usa em seuencia e na mesma confirmação, o obi, orogo, cebola, maça, etc...Eu me pergunto, para que?
Eu suponho que seja "pirotecnia". Partindo do princípio, como já disse, sempre vai dar SIM, quanto mais instrumentos a pessoa usar mais importante vai se sentir. Deve ser isso.
Se o Obi deu SIM por que usar outro instrumento? E se o orogbo ou a cebola dessem não? Claro que nunca dá, porque como eu expliquei vai ser jogada até dar 1 SIM.
O fato é que isso tudo é um engodo. As pessoas não fazem a confirmação para receberem um NÃO. Somente o SIM vai ser aceito. Dessa maneira você pode fazer o processo usando ao mesmo tempo Obi, orogbo, maça, cebola, coco, melancia, banana, jaca, não importa. Sempre vai ter que dar SIM.
Como eu disse, junta falta de conhecimento com vaidade.
Na falta de um Obi o instrumento correto, na minha opinião, são os 4 búzios de Exu. É jogar para ver.
Bom aguardem para próximos textos, o itan sobre o Obi e também vou explicar em detalhes como se usa o Obi e o Orogbo.
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